quinta-feira

e agora quê?
mais uma semana sem comer e esta é a minha tentativa de te contar.

quarta-feira

não te interessa pensar
nem te interessa pensar porquê
mas eu estive a pensar e não te
interessa pensar em quê
sentir sem pensar no sentido
é como calar o que existe
esse lema é só um vestido
e é o mais leve que vestiste

não te interessa tentar
nem te interessa pensar o quê
não te interessa espreitar a verdade
se no fim é ela que te vê
viver sem pensar no que perdes
é como perder o respeito
o respeito é só um vestido
mas é com ele que eu me deito

não te interessa dizer
nem te interessa dizer porquê
não te interessa mudar se é mudar
o que ninguém vê
perdeste sem qualquer sentido
o que afinal não existe
mas teu caminho foi seguido
e o que é certo é que o seguiste

segunda-feira

Novamente o trautear de canções tristes, afundadas na densidade do momento. O ar grosso escapa, e não há um sorriso a avistar, um momento a reter. Não há nas paredes altas um momento aprisionado que se refira a algo real.

Mas pouco é a realidade. Pouca realidade nos toca, cuspindo a cada ser uma gota de horror, e atormentando-o. É fácil de secar, mas permanece. É fácil esquecer, mas regressa.

Em sonhos e desvarios gritada e gritante, ela existe. E só no instante em que o olhar se distrai, ela ataca: ferozmente intimida, suavemente aterroriza. Com passos traiçoeiros ela mente as verdades que não se querem ouvir. Num segundo de lucidez, ela se desvanece. Porque ninguém a quer, ninguém a vê. E se a visse, ou se a vir, cedo lhe virará a cara. Suas faces aniquilam o contentamento humano. Sua estridente voz esconjura barbaridades e fluorescências de outros mundos, gritantes e gritados. É a redundância da verdade, porque a verdade não existe.

E a nossa vida é a sua eterna procura.

Procura nula e apaixonante, que persegue o nada e o vazio. Preenchem nossos espaços protegidos. Trancam as gavetas que se desconhecem, no fundo do ser, ou do não ser.

Em cada porta um desflorar. Em cada desflorar uma verdade. Em cada verdade uma farsa.
Cada vez mais elaborada.



Porque a verdade existe, sim.

Mas ninguém a vê.

Nem quer.