segunda-feira

Novamente o trautear de canções tristes, afundadas na densidade do momento. O ar grosso escapa, e não há um sorriso a avistar, um momento a reter. Não há nas paredes altas um momento aprisionado que se refira a algo real.

Mas pouco é a realidade. Pouca realidade nos toca, cuspindo a cada ser uma gota de horror, e atormentando-o. É fácil de secar, mas permanece. É fácil esquecer, mas regressa.

Em sonhos e desvarios gritada e gritante, ela existe. E só no instante em que o olhar se distrai, ela ataca: ferozmente intimida, suavemente aterroriza. Com passos traiçoeiros ela mente as verdades que não se querem ouvir. Num segundo de lucidez, ela se desvanece. Porque ninguém a quer, ninguém a vê. E se a visse, ou se a vir, cedo lhe virará a cara. Suas faces aniquilam o contentamento humano. Sua estridente voz esconjura barbaridades e fluorescências de outros mundos, gritantes e gritados. É a redundância da verdade, porque a verdade não existe.

E a nossa vida é a sua eterna procura.

Procura nula e apaixonante, que persegue o nada e o vazio. Preenchem nossos espaços protegidos. Trancam as gavetas que se desconhecem, no fundo do ser, ou do não ser.

Em cada porta um desflorar. Em cada desflorar uma verdade. Em cada verdade uma farsa.
Cada vez mais elaborada.



Porque a verdade existe, sim.

Mas ninguém a vê.

Nem quer.

Sem comentários: