quarta-feira
correndo e discorrendo sobre o que corrido foi, sempre brota em nós uma noção diferente do que somos, ou fomos.
coerentes ou incoerentes, corremos sempre, falando talvez línguas e idiomas meio percebidos, despercebidos ignorámos.
e pequenos, pequeninos, almejamos sempre ser mais que nós, numa luta transcendente que só nos levou à vil ignorância de ser.
escorregámos nas noções, tornámo-nos grandes demais para nós, e pequenos demais para o mundo.
domingo
terça-feira
quinta-feira
E diferentes cores banhavam os céus, e diferentes pensares o liam, tão atentamente.
Dois, três, quatro e cinco cambadas de seres desordenados. Poucos sabem que são, e na sua desmesurada ignorância saltitam alegremente.
Lá vai bola.
É assim que cedo se sorri, cedo se fala quando pouco erudito se é. Ao ano somos os donos do mundo e vimos tão pouco como teremos visto à hora da partida. Desenterramos ao metro e meio os preconceitos ancestrais que nos antecedem, que nos embebem, que nos comem vivos e que nos envelhecem prematuramente, que nos aniquilam o direito à pureza, à virgindade.
É cedo, tão cedo, que a dor nos estilhaça, que nos repudia a mama que chupamos vigorosamente até de lá sacar todo o sustento e prazer doente da infância. Porque a inocência é geométrica.
E porque a geometria perfeita jamais se retira do nosso infinito pessoal, do nosso imaginário.
E nada geométrica, lá vai a bola.
É quase cedo que nos arrastam pequenos e doces para um antro cheio de nós, porcos e sujos, maus. É um arrastar de condenação que nos deixa sozinhos no lugar mais cheio que já vimos. E é no seio que nos deixou, faz já tanto, tanto tempo, que tentamos resistir ao acto, que tentamos resistir ao sucumbir. Não queremos morrer.
E a bola vai, lá vai a bola, por fim.
Enchemo-nos de nós. Somos o centro do mundo. Vivemos tanto, por tão pouco. Sofremos e desatamos pelo mais pequeno inclinar ao desprazer, e somos tontos, e absurdos. Cada vez mais humanos pecamos bem mais que Adão, e bem menos que Eva. Somos pão amassado.
Somos a mentira que criámos. Somos o que moldamos, e assim nos despedaçam. E o que nos demorou a cozer o barro da alma pútrida em nós, é num instante que se lança vão abaixo, e que se perde na imensidão do vazio, do buraco comedor de gente. Somos a merda do pão amassado, e somos vis.
A bola corre, e vai, e vem tudo e somos muitos alguéns diferentes e todos mantemos a mesma característica: o alguém que não é, e assim sendo, é um alguém tal e qual o outro.
E no fim, a bola, ou o mundo, é nosso. Corremos e percorremos as pequenas linhas a tracejado que desenhamos descuidadamente no nosso globo escolar.
E no fim, o mundo, ou a bola, é nossa. Sonharam e inventaram as pequenas linhas a tracejado.
Somos portugueses. E ser portuga, portucalense, lusitano ou lusíada é tudo e é nada. As palavras são traições vãs vazias e ocas. O significado vive em nós e nem o sabemos. Odiamos o que não conhecemos.
Conheces-te?
Raramente te olhas, aposto. Raramente te vês.
O espelho espelha apenas o que queres ver, não fora a base, o cabelo, o globo ocular. O globo escolar.
Olha-o. Percorre com a ponta tracejada do teu dedo o tracejado do globo. Percorre Vasco da Gama. Percorre a gama do Vasco. Percorre a Rua da Alegria.
Percorre-te.
Olha-te.
Ser português não é fado ou saudade.
Ser português é viver como vives se o és, ou viver como viverias se fosses outro qualquer, de qualquer outro país.
Acolhe-te primeiro. Sorri-te.
E quando fores velho, bem velhinho, lê-te, por fim. Pouco de ti foste, de certo, mas os teus transpirar-te-ão. Numa sala bem cheia, se Deus quiser, te afagarão em carinhos benevolentes e francos, e serás um messias. Serás português como um inglês o seria, nesse mesmo lugar.
Leva-te contigo e serás tu.
A flor, o fado, a saudade, tem-na de ti.
O resto virá depois.
terça-feira
mas corrói silenciosamente, o traiçoeiro passado; dificilmente o pretérito perfeito o é.
dificilmente se foge.
e a cada sol se pensa e repensa o que foi e o que não foi, é preciso perdoar para se ser cristão.
mas cristãos poucos somos, e o que dói, dói muito; e a cada sol não se perdoa.
a cada sol se foge.
floresce-nos uma vontade de ser, de ser em conjunto, e lá se foi a dificuldade e a cristandade.
a verdade pode escapar, se a mentira for realmente feliz; sê fluorescente comigo.
amo-te. para sempre.
http://www.acapela.tv/Cartoon-70479460_bf03b055a9e68-70479475_bf03b05a02767-70479487_bf03b05dba8c8-7-6-1
(olha o que a fofinha da chow nos deu)
domingo
O 2D, o 3D e o 4D são o mesmo que o 1D, que é o mesmo que nada. Estamos todos bem por cá, obrigado. A dor que flutua no ar não existe, só existe a felicidade que ainda não foi. O mais miserável moribundo sabe que a sente. Viver é viver. Sabes como?
A essência do que há e do que não há é incompreensível, incomparável. A mentira é dolorosa, mas não é, de todo, imperceptível. O que voou voou, mas a cada tornear da carne ele volta. Não deixes que a guardiã do teu terror te assombre se ela já não existe.
Voa para longe que Deus deu-te asas para isso.
(como duvidar dele?)
Há fome, há sangue em ti. A vida gere-se com o paladar dos inocentes na busca da sua própria impureza. Cada um de nós é merda pútrida que fede desmesuradamente. Mas o amor domina-nos, escraviza-nos, mata-nos.
E morremos felizes.
A dor já passou e ainda a sentes.O cobertor já desfiou e nunca sentiste o seu calor. Segue o sonho, vive a esperança, nada mais te resta.
E tantos anos correram contigo, enquanto desesperadamente lutavas. Mas a vida passa por ti. Jamais serás a morte no mundo dos vivos, jamais serás triste se não tiveres sido feliz. A não reacção é o único sintoma de morte interior, e poderá ela ser, tão simplesmente, o patamar mais alto da tua existência.
Mas humano que é humano deseja a carne, deseja a vida baixa e crua, o prazer valoroso do odor, do calor, do orgasmo.
E explode em nós uma enorme quantidade de não sei quê.
É a luz, é a cor, é a força. Lacrimeja-te o olho. Grita. A vida começa aqui.
sábado
segunda-feira
já passei por montes e vales e valetas, bairros, cidades e nações de palavras, de justificações, de desculpas, de mentiras.
a verdade, a tal que tanto escorrega, que tanto se esconde, que nem existe, talvez. essa, essa diz que dentro de mim há, e sempre houve, o bichinho q nao me quer deixar ser feliz.
é um bichinho q me faz lutar tudo, e nunca estar satisfeita. talvez me leve muito longe.
mas na verdade, apenas me parece querer-me levar a vida.
sexta-feira
terça-feira
(bem sei que não és um diário,
sei também que nunca tive diário algum)
há dias que valem por anos.
posso, embora haja sempre ponta de mentira no que enuncio, dizer que sou feliz. as marcas de dor são a sua prova.
o fim não é o fim, e já muito tarde o descubro. tivémos o nosso fim tantas e tantas vezes, que quando por fim cessarmos em ser, eu talvez não o descubra.
mas enfim, o fim não chega, e eu não o deixo aproximar-se, com as suas garras vincadas, venenosas, e o seu sorriso doce, tão irreal - tão falso.
a minha felicidade, nunca será amarga, nunca será de plasticina - e isso eu agradeço a uma velha amiga (se é que o termo lhe vale)
a minha felicidade é carne, é quente, é minha e é aqui.
graças a deus por ser eu,
só assim te tenho <3
quinta-feira
quarta-feira
Não era muito tarde.
Eram as horas do costume, no sítio do costume, o tempo do costume, e, como de costume, ainda não tinhas chegado.
O coração apertava tanto na tua ausência.
Eu estava calma. O brr-brr acertava o passo com o bum-bum. A tua chamada era o guia do meu coração. Era fácil saber o que vinha a seguir - amor, puro e bruto, tão violentamente físico e cru. Mas ainda não tinhas chegado, e eu, distraídamente, fazia contas de cabeça com as matrículas que passavam.
cinco menos um quatro, três vezes dois seis, seis vezes quatro vinte e quatro
um e um dois, seis e seis doze, dois vezes doze vinte e quatro
quatro vezes quatro dezasseis, quatro e quatro oito, dezasseis e oito vinte e quatro
joão?
joão pedro?
eu recordo esse nome. acho q o amei outrora. ou espera?....
será? talvez não. talvez fosse outra a parte do meu corpo que por ele palpitava.
uma mente doente trai o seu corpo.
o seu corpo, tão guloso em si próprio busca desesperadamente e....
Já foi há tanto tanto tempo... Era mais fácil. Agora espero por alguém que sei que vem, mas não sei quem é... Não sei quem de si domina hoje o seu corpo. E embora pouco o conheça, poucas vezes o tenha visto, e muitas vezes o tenha visto como mentira, provada, dura, de lágrima fácil eu continuo à espera. Quero o teu sorriso tonto colado no meu, quero entrelaçar dedos, mundos, quero tanto mais...
Se calhar quero só. Sim, eu sei que sonho só. Será que suportaria não sonhar a sós?
Será que o amor não aniquilaria a minha apaixonante depressão, a minha terrorífica e tão doce mania, a minha visão perturbadora, a minha visão, tão minha...
Quero-te. É certo.
mas quero-te cada vez menos, e tento cada vez mais.
sê meu. é fácil-
terça-feira
sábado
ao de cada dia, já mo provaste seis vezes.
ao fim de cada dia já não acabámos vez nenhuma, porque começar nunca começamos.
sofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofiasofia
já era altura de eu, por fim, o perceber.
e deixar me viver.
chega de morte-
domingo
sexta-feira
segunda-feira
Os dias correm, e tu, mais que os dias, corres.
(e não, isto não é para ti)
Corres, e foges, e levas contigo tudo o que é meu.
Os sorrisos de meia-lua já viram o sol. Queimaram.
A luz já não se reflecte nos nossos caminhos, outrora serenos.
Outrora entrelaçados, tão doces, tão macios, tão meus.
Só meus.
Quero ver o fim em mim.
Por agora, talvez veja um começo.
(E secretamente rezo e murmuro para que não resulte.
Secretamente as lágrimas vertem para dentro e esperam que voltes.
Secretamente teimo em acreditar que nunca te foste.)
E não, isto não é para ti.
domingo
Talvez tenha sido só meu.
Um sonho que talvez só eu tenha sonhado, mas viveste-o comigo.
Tiraste me o chão, partiste cada vidro de cada janela para cada paraíso ilusório.
Mas o frio da noite voltou. Os seus fantasmas assombram-me.
A sua crueldade mórbida e gélida aperta-nos, e ao mesmo tempo que nos leva pelo mesmo caminho, afasta-nos... E afasta-nos tanto...
A mão largou.
Já só há o que recordar.
Obrigada.
no fim, já só isto me resta.
sempre tive razão, só tu podes fazer algo por ti.
quinta-feira
quarta-feira
Os teus gritos estridentes pressagiavam-se desde o início.
Ambos conhecíamos o fim.
Só eu te amei...
Talvez devesse guardar sorrisos. Guardar os sorrisos. Mas se soa tão falso o seu eco...
Se o que me fazes é deitar me fora, como a um qualquer outro objecto que te incomoda...
Ambos conhecíamos o fim.
Talvez o sono não volte, o sonho desvaneça e eu perpetue.
Talvez o segredo é que o meu fado é ser para sempre eu.
Para sempre o matutar de cada palavra minha.
Ambos conhecíamos o fim.
Agora espero, neste sítio vazio, azul por si. A tristeza flutua sozinha.
Mas eu espero. Agora espero tortuosamente pelo desespero repetido das tuas palavras. Repetidas.
Mas como uma droga que não larga mas destrói, eu anseio-te.
O meu corpo anseia-te.
Vibra, dói, geme...
E tu não tens de tentar. Assim morrerei a teus olhos por teu prazer.
Ambos conhecíamos o fim.
Talvez não tenha sido nada. O que é? O que sou? O que fomos? Nada, e nada é algo difícil de se ser. Ser nada sendo tanto é algo que penetra a alma, que a vira do avesso, que a sacode como migalhas de pão. Comeste-o? Não terias comido invariavelmente esse pão, fosse qual fosse? Há razões para ser nada que são bastante mais do que deviam. Há razões para que ser tão nada seja tão bastante mais do que devia.
Porquê tu, porquê hoje, porquê ser, porquê perguntar.
quarta-feira
nem te interessa pensar porquê
mas eu estive a pensar e não te
interessa pensar em quê
sentir sem pensar no sentido
é como calar o que existe
esse lema é só um vestido
e é o mais leve que vestiste
não te interessa tentar
nem te interessa pensar o quê
não te interessa espreitar a verdade
se no fim é ela que te vê
viver sem pensar no que perdes
é como perder o respeito
o respeito é só um vestido
mas é com ele que eu me deito
não te interessa dizer
nem te interessa dizer porquê
não te interessa mudar se é mudar
o que ninguém vê
perdeste sem qualquer sentido
o que afinal não existe
mas teu caminho foi seguido
e o que é certo é que o seguiste
segunda-feira
Mas pouco é a realidade. Pouca realidade nos toca, cuspindo a cada ser uma gota de horror, e atormentando-o. É fácil de secar, mas permanece. É fácil esquecer, mas regressa.
Em sonhos e desvarios gritada e gritante, ela existe. E só no instante em que o olhar se distrai, ela ataca: ferozmente intimida, suavemente aterroriza. Com passos traiçoeiros ela mente as verdades que não se querem ouvir. Num segundo de lucidez, ela se desvanece. Porque ninguém a quer, ninguém a vê. E se a visse, ou se a vir, cedo lhe virará a cara. Suas faces aniquilam o contentamento humano. Sua estridente voz esconjura barbaridades e fluorescências de outros mundos, gritantes e gritados. É a redundância da verdade, porque a verdade não existe.
E a nossa vida é a sua eterna procura.
Procura nula e apaixonante, que persegue o nada e o vazio. Preenchem nossos espaços protegidos. Trancam as gavetas que se desconhecem, no fundo do ser, ou do não ser.
Em cada porta um desflorar. Em cada desflorar uma verdade. Em cada verdade uma farsa.
Cada vez mais elaborada.
Porque a verdade existe, sim.
Mas ninguém a vê.
Nem quer.
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