sábado

Hoje eu fui à pesca outra vez.

A água era já morna, ao fim de fria, ao fim de um quente e comprido dia. A água era já morna mas não menos sua, porque a água, essa sim, vivia, de facto, no momento que se cantava, e na luz difusa de um sol quase morto. Era como se soltasse das areias consporcadas por alguém, sempre ausente, e das ervas pontiagudas de um deus, sempre esquecido.

Terra pequena, terra verde. Mas a água, viajada, nem verde era, ou por uma ou duas garradas de lixo. De negro e de fúria: de lixo. Deus, sempre esquecido, sempre ausente: alguém. Sempre alguém. Nunca Deus. Mas era uma terra ausente e esquecida, viva e verde. Uma terra de água.

Da água brotava o peixe, do peixe a fome.
A fome do homem e da fome a sede, o luxo, o prazer. A fome do peixe e o peixe da água.
Mas que água? O prazer brotava do homem, e do prazer: a fome. E dela a água, e o peixe, e a terra. E Deus, às vezes.

Ao fundo havia casas, pátrias, cidades, terras e montes; verdes, menos verdes; cidades, carros, estradas. Mas eram ao fundo, eram longe. Não eram mais suas do que a água. Estava agora morna, depois de fria, ao fim do quente e comprido dia.










E ao décimo nono dia do sétimo mês do 2008º ano, Deus ainda não se tinha lembrado de me dar um coração.

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