sábado

são ruas

Estas ruas são castanhas e verdes, como o sorriso que eu não sorri ontem, nem nunca. São ruas cheias de pedras que doem ao pisar, mas não doem ao olhar, nem ao toque menos severo de uma mão minha. São ruas sem medo nem fumo, sem frio nem porco, mas cheias de pudor.
São ruas velhas esquecidas pelo tempo.

Estas ruas são minhas sem ser, e sou delas mesmo que nunca tenha sido de ninguém. São ruas que te prendem, que te gritam um ‘fica aqui, sê miserável a nosso par’ numa voz doce e convincente, e soam a canto de flauta oca, de madeira. Nestas ruas respira-se bem, mas respira-se obrigado.
Quem disse que era livre aquele que se vergasse à Natureza em si?

Estas ruas minam-nos a mente de ideias brilhantes, ideias perfeitas e inquestionáveis. São as ruas do glorioso saber eterno. Se as seguires serás feliz, se as seguires serás correcto, serás moral. São ruas de uma alegria contente que te encanta o coração, cantando-te na mente, baixinho, tudo em que acreditas.
São ruas que te dominam e abafam, e nelas morrerás se não lhes vires o fim.

São ruas que te encontram.
São ruas que te perdem.
Para sempre.

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