quarta-feira

Não era muito cedo.
Não era muito tarde.
Eram as horas do costume, no sítio do costume, o tempo do costume, e, como de costume, ainda não tinhas chegado.


O coração apertava tanto na tua ausência.


Eu estava calma. O brr-brr acertava o passo com o bum-bum. A tua chamada era o guia do meu coração. Era fácil saber o que vinha a seguir - amor, puro e bruto, tão violentamente físico e cru. Mas ainda não tinhas chegado, e eu, distraídamente, fazia contas de cabeça com as matrículas que passavam.


cinco menos um quatro, três vezes dois seis, seis vezes quatro vinte e quatro
um e um dois, seis e seis doze, dois vezes doze vinte e quatro
quatro vezes quatro dezasseis, quatro e quatro oito, dezasseis e oito vinte e quatro

joão?
joão pedro?
eu recordo esse nome. acho q o amei outrora. ou espera?....
será? talvez não. talvez fosse outra a parte do meu corpo que por ele palpitava.
uma mente doente trai o seu corpo.
o seu corpo, tão guloso em si próprio busca desesperadamente e....

Já foi há tanto tanto tempo... Era mais fácil. Agora espero por alguém que sei que vem, mas não sei quem é... Não sei quem de si domina hoje o seu corpo. E embora pouco o conheça, poucas vezes o tenha visto, e muitas vezes o tenha visto como mentira, provada, dura, de lágrima fácil eu continuo à espera. Quero o teu sorriso tonto colado no meu, quero entrelaçar dedos, mundos, quero tanto mais...

Se calhar quero só. Sim, eu sei que sonho só. Será que suportaria não sonhar a sós?
Será que o amor não aniquilaria a minha apaixonante depressão, a minha terrorífica e tão doce mania, a minha visão perturbadora, a minha visão, tão minha...
Quero-te. É certo.






mas quero-te cada vez menos, e tento cada vez mais.
sê meu. é fácil-

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